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Gráfico da semana: A ascensão das grandes corporações

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A crescente riqueza e poder econômicos das grandes empresas mdashhere— de companhias aéreas a empresas farmacêuticas e de alta tecnologia mdashhere— têm gerado preocupação sobre o excesso deconcentração e poder de mercado nas mãos de poucos. Em especial, nas economias avançadas, o aumento do poder de mercado das corporações tem sido apontado como o motivo para o baixo investimento apesar do aumento dos lucros das empresas, o declínio do dinamismo dos negócios, a fraca produtividade e a queda da parcela da renda paga aos trabalhadores.

A ascensão das grandes empresas levantou novas questões sobre a possibilidade de essa tendência continuar e, em caso afirmativo, sobre a necessidade ou não de repensar a política para manter a concorrência justa e forte na era digital. No entanto, o poder de mercado das corporações é difícil de medir e indicadores comuns como a concentração de mercado ou os índices de lucro podem ser enganosos.

Nosso gráfico da semana mostra que a questão é ampla e vai além do setor das grandes empresas de tecnologia. Ele se baseia em um documento de trabalho do FMI que usa dados de empresas com ações negociadas em bolsa de 74 países, a ser publicado em breve. Mais especificamente, o gráfico mostra as médias das margens ou markups entre todas as empresas, comparando os preços nas economias avançadas e nas economias em desenvolvimento e de mercados emergentes. Expresso como uma relação, o markup compara o preço que uma empresa cobra pelos seus produtos e o custo de produzir uma unidade adicional desses produtos. Dessa forma, constitui um indicador do poder de mercado.

Chart

O gráfico revela dois fatos claros. Primeiro, as margens entre as economias avançadas aumentaram consideravelmente desde os anos 1980 (43%, em média) e essa tendência se acelerou durante a década atual. Segundo, entre economias em desenvolvimento e de mercados emergentes, o aumento das margens é bem mais moderado, uma alta de 5%, em média, desde 1990.

Uma análise mais aprofundada mostra que o aumento das margens nas economias avançadas se deve, sobretudo, às “grandes estrelas” do setor empresarial que conseguiram aumentar ainda mais seu poder de mercado, enquanto as margens das demais empresas basicamente se mantiveram estáveis. Curiosamente, esse padrão é encontrado em todos os setores econômicos de modo geral e não apenas na tecnologia da informação e da comunicação.

Será que devemos nos preocupar com esse aumento do poder de mercado das grandes empresas nas economias avançadas? A resposta simples é sim, sobretudo se essa tendência se mantiver. Nosso estudo constata que, a partir de níveis baixos, as margens mais altas inicialmente estão associadas ao aumento do investimento e da inovação, mas essa relação se torna negativa quando o poder de mercado se torna forte demais. Além disso, o vínculo entre as margens e o investimento e inovação é mais fortemente negativo em setores que apresentam níveis mais elevados de concentração de mercado.

O estudo também encontra uma associação negativa nas empresas entre a participação da mão de obra e as margens, o que implica que a parcela da renda que cabe à mão de obra recua nos setores em que o poder de mercado aumenta. Em outras palavras, quando o poder de mercado é maior, a parcela da receita das empresas destinada aos trabalhadores diminui, enquanto a parcela da receita que vai para os lucros aumenta.

Quais são as implicações para as políticas? Isso dependerá dos fatores por trás desse aumento no poder de mercado mundial, que ainda estão sendo discutidos. Alguns dos possíveis culpados são o crescimento dos ativos intangíveis, como o software, os efeitos de rede (quando o valor de um produto para o usuário aumenta à medida que o número de usuários do produto aumenta) e o enfraquecimento da aplicação das leis de defesa da concorrência. São necessários mais estudos para discriminar esses fatores.

Uma conferência neste mês de junho, organizada pelo FMI, Banco Mundial e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, se debruçará sobre o poder de mercado das grandes corporações, as políticas de concorrência, a (des)regulamentação do mercado de produtos e seus efeitos macroeconômicos.

Assista a um vídeo com uma discussão sobre a digitalização e a nova era de ouro durante um seminário nas Reuniões de Primavera do FMI e do Banco Mundial de 2018 (em inglês).

 

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Federico J. Díez é economista na Unidade de Reformas Estruturais do Departamento de Estudos do FMI. Antes de ingressar no FMI, trabalhou no Federal Reserve Bank de Boston. Seus estudos têm como temas o poder de mercado das empresas, a inovação, o empreendedorismo, a organização das empresas e a moeda de faturamento. É doutor em Economia pela Universidade de Wisconsin-Madison.

Daniel Leigh é Subchefe de Divisão no Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI. Seus estudos têm como tema a macroeconomia internacional, com foco nas políticas fiscal e monetária. É doutor em Economia pela Universidade Johns Hopkins e mestre em Economia pela London School of Economics.