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Cinco fatos sobre as fintechs

Seja por meio da inteligência artificial ou do uso de aplicativos móveis, a tecnologia ajuda a ampliar o acesso a produtos e serviços financeiros seguros e eficientes.

Como as fintechs oferecem a oportunidade de impulsionar o crescimento econômico e aumentar a inclusão financeira em todos os países, o FMI e o Banco Mundial conduziram uma pesquisa com bancos centrais, ministérios das finanças e outros organismos de 189 países sobre uma série de tópicos, e receberam 96 respostas. Um novo documento analisa os resultados dessa pesquisa e as constatações de outros estudos regionais, e identifica áreas passíveis de cooperação internacional – com funções para o FMI e o Banco Mundial – e nas quais os governos, as organizações internacionais e os organismos normativos ainda têm muito a fazer.

A pesquisa revelou algumas tendências interessantes e surpreendentes: em todos os países, a preocupação mais imediata é com a cibersegurança.

1. Os riscos ligados à cibersegurança e à proteção de dados não conhecem fronteiras, com repercussões em todos os setores e países, e os governos estão trabalhando com afinco para enfrentar o problema. Todos os países estão bastante cientes dos riscos cibernéticos e a maioria das jurisdições conta com estruturas para proteger os sistemas financeiros. A maioria dessas jurisdições — 79% delas de renda mais alta, segundo os resultados da pesquisa — identificou os riscos cibernéticos das fintechs como um problema para o setor financeiro.

Mas os dados da pesquisa sugerem que apenas um terço das jurisdições analisou as interdependências tecnológicas entre redes, sistemas ou processos dentro do setor financeiro ou examinou os riscos de concentração entre os grandes provedores de tecnologia que poderiam ameaçar a infraestrutura financeira. Uma proporção elevada — 83% dos países de alta renda — relata algum grau de supervisão dos riscos cibernéticos ligados a provedores de serviços, mas apenas metade das jurisdições de baixa renda define requisitos mínimos.

2. A Ásia está à frente das demais regiões em muitos aspectos das fintechs. Na China, a enorme escala de seus mercados e a regulamentação “branda” nos primeiros anos apoiaram o desenvolvimento das fintechs, o que fez o país emergir como um líder mundial. Na Índia, a adoção em larga escala dos pagamentos móveis e o aumento das transferências de dinheiro impulsionaram a expansão desse segmento.

Mas o uso das fintechs na região revela grandes lacunas entre ricos e pobres, homens e mulheres e zonas rurais e urbanas.

3. A África Subsaariana é líder mundial em inovação, adoção e uso do dinheiro móvel. A região possui o maior número de contas móveis per capita (registradas e ativas) e pontos de dinheiro móvel e o maior volume de transações móveis em todo o mundo. As transações com dinheiro móvel representam quase 10% do PIB, em comparação com apenas 7% do PIB na Ásia e menos de 2% do PIB em outras regiões. Em toda a África, a adoção e o uso da tecnologia na prestação de serviços financeiros está alterando a forma como os provedores operam e oferecem produtos e serviços a seus clientes.

4. A adoção das fintechs na Europa não está unificada. Dado o nível elevado de acesso à telefonia móvel e à Internet, é grande o potencial para as fintechs melhorarem a oferta e o uso de serviços de pagamentos e outros serviços financeiros nos países europeus. A modernização dos quadros de políticas de dados da UE ajudou a esclarecer os direitos e obrigações na economia dos dados, uma questão que muitos países precisam abordar. Contudo, são significativas as diferenças regionais na adoção das finanças digitais, na prevalência de pagamentos envolvendo dinheiro vivo, na titularidade e uso de contas, e na poupança e crédito na região. Existe também, por exemplo, uma diferença marcante entre o Reino Unido e o resto da Europa — o país está bem à frente dos demais em termos de inovação e investimento nas fintechs.

5. As moedas digitais apoiadas pelos bancos centrais poderão tornar-se uma realidade. A pesquisa revela uma ampla gama de opiniões dos países sobre a adoção de moedas digitais pelos bancos centrais. Em cerca de 20% das respostas, indica-se que a possibilidade de emitir essas moedas está sendo estudada. Mesmo assim, os projetos estão em estágio inicial: foram relatados apenas quatro casos experimentais. As principais razões citadas em favor da emissão de moedas digitais são a redução dos custos, o aumento da eficiência na implementação da política monetária, a necessidade de enfrentar a concorrência das criptomoedas, a garantia da contestabilidade do mercado de pagamentos e a oferta ao público de um instrumento de pagamento sem riscos.

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Tobias Adrian é o Conselheiro Financeiro e Diretor do Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI. Nessa função, dirige o trabalho do FMI relacionado com a supervisão do setor financeiro, as políticas monetária e macroprudencial, a regulação financeira, a gestão da dívida e os mercados de capitais. Além disso, supervisiona as atividades de fortalecimento das capacidades nos países membros do FMI. Antes de ingressar no FMI, foi Vice-presidente Sênior do Federal Reserve Bank de Nova York e Diretor Adjunto do Grupo de Estudos e Estatística.

Tobias Adrian lecionou na Universidade de Princeton e na Universidade de Nova York e é autor de numerosos artigos em publicações especializadas de economia e finanças, como American Economic Review,Journal of Finance, Journal of Financial Economics e Review of Financial Studies. Tem um doutorado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um mestrado da London School of Economics, um diploma da Universidade Goethe de Frankfurt e um mestrado da Universidade Dauphine de Paris. Recebeu seu diploma de bacharelado ( Abitur) em Literatura e Matemática da Humboldtschule Bad Homburg.

Ceyla Pazarbasioglu é Diretora Adjunta do Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI, a cargo do trabalho sobre gestão de crises e regulação e supervisão do setor financeiro. Antes de ingressar no FMI, foi nomeada Vice‑Presidente da Agência de Regulação e Supervisão Bancária da Turquia após a grande crise bancária de fevereiro de 2001. Antes, atuou como Economista-Chefe de Mercados Emergentes Europeus no ABN AMRO Investment Bank em Londres e, além disso, trabalhou no FMI em questões do setor financeiro e estratégias de reestruturação bancária para vários países.