Credit: Esther Ruth Mbabazi/IMF Photos

Gráfico da Semana

Juros mais altos por mais tempo nos EUA pressionam as moedas africanas

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Moedas mais fracas dificultam a luta para conter a inflação em virtude de a região depender de importações

Laurent Kemoe, Moustapha Mbohou Mama, Hamza Mighri e Saad Quayyum

A maioria das moedas da África Subsaariana enfraqueceu-se em relação ao dólar dos Estados Unidos, alimentando as pressões inflacionárias em todo o continente por causa do aumento dos preços dos produtos importados. Combinado com a desaceleração do crescimento, isso deixa as autoridades diante de escolhas difíceis ao tentar equilibrar os esforços para manter a inflação sob controle e uma recuperação ainda frágil.

Como mostra o Gráfico da Semana, a desvalorização média na região desde janeiro de 2022 é de cerca de 8%. Contudo, isso varia de país para país. O cedi e o leone, as moedas de Gana e de Serra Leoa, respectivamente, sofreram uma desvalorização de mais de 45%.

Fatores externos, em sua maioria, causaram as desvalorizações por toda a região. O menor apetite por risco nos mercados mundiais e as elevações dos juros nos Estados Unidos afastaram os investidores da região e os direcionaram para os títulos do Tesouro americano, mais seguros e com maior remuneração.

As receitas cambiais foram atingidas em muitos países, pois a demanda pelas exportações da região caiu devido à desaceleração econômica nas principais economias. Ao mesmo tempo, os altos preços do petróleo e dos alimentos, em parte causados pela guerra da Rússia na Ucrânia, elevaram os gastos com as importações em 2022.

Os grandes déficits orçamentários agravaram os efeitos desses choques externos, aumentando a demanda por divisas. Cerca de metade dos países da região teve déficits superiores a 5% do produto interno bruto em 2022, pressionando suas taxas de câmbio.

Implicações

Quando as moedas se enfraquecem em relação ao dólar, os preços locais aumentam, pois grande parte do que as pessoas compram, até mesmo itens essenciais como alimentos, é importada. Na maioria dos países da região, mais de dois terços das importações são cotadas em dólares.

Na região, um aumento de 1 ponto percentual na taxa de desvalorização frente ao dólar resulta, em média, num aumento da inflação de 0,22 ponto percentual no primeiro ano. Também há evidências de que as pressões inflacionárias não diminuem rapidamente quando as moedas locais se fortalecem em relação ao dólar.

Moedas mais fracas também fazem subir a dívida pública. Na África Subsaariana, cerca de 40% da dívida pública é externa e, na maioria dos países, mais de 60% dessa dívida está denominada em dólares. Desde o início da pandemia, as desvalorizações do câmbio contribuíram para um aumento da dívida pública da região em cerca de 10 pontos percentuais do PIB, em média, até o fim de 2022, tudo o mais constante. O crescimento e a inflação (que reduzem o valor real das dívidas existentes) ajudaram a conter o aumento da dívida pública, que ficou em cerca de 6% do PIB durante o mesmo período.

Muitos bancos centrais da região tentaram sustentar suas moedas fornecendo divisas de suas reservas aos importadores. Contudo, com os níveis das reservas cada vez mais baixos em muitos países, há pouco espaço para continuar a intervir nos mercados cambiais.

Os países também aplicaram medidas administrativas, como o racionamento de divisas ou a proibição de transações em moeda estrangeira. Tais medidas podem ser altamente distorcivas e gerar oportunidades de corrupção.

Como os choques externos devem persistir, os países em que as taxas de câmbio não são vinculadas (fixas) a uma moeda não têm muitas opções a não ser deixar o câmbio se ajustar e adotar uma política monetária mais austera para combater a inflação. Os países com taxas de câmbio vinculadas precisarão ajustar a política monetária de acordo com o país da moeda de referência. Nos dois grupos de países, a consolidação fiscal pode ajudar a controlar os desequilíbrios externos e limitar o aumento da dívida relacionado à desvalorização da moeda. Reformas estruturais podem ajudar a impulsionar o crescimento.

Este blog baseia-se numa nota analítica do relatório do FMI Perspectivas Econômicas Regionais: África Subsaariana.

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Laurent Kemoe é Economista no Departamento da África do Fundo Monetário Internacional. Após ingressar no FMI em 2017, trabalhou no Departamento de Estatística e no Departamento da Europa, cobrindo a França e a Bélgica. Antes de trabalhar no FMI, foi consultor no Gabinete do Economista-Chefe da Região da África no Banco Mundial. Seus estudos têm como temas finanças internacionais, macroeconomia, macroeconometria e mudança climática. É doutor em Economia pela Universidade de Montreal.

Moustapha Mbohou Mama é Economista no Departamento da África do FMI, no qual se encarrega do Senegal. Desde que ingressou no FMI em 2020, trabalhou no Departamento de Mercados Monetários e de Capitais. Começou a carreira em 2012 como economista no Banco dos Estados da África Central (BEAC), em que se ocupou amplamente da implementação de políticas monetárias, de questões de estabilidade financeira e do desenvolvimento dos mercados de dívida interna. Seus estudos têm como temas macrofinanças, macroeconomia, política monetária, política macroprudencial, desenvolvimento dos mercados de dívida em moeda local e política fiscal. É doutor em Economia pela Universidade de Dschang.

Hamza Mighri é Assistente de Pesquisa no Departamento da África do Fundo Monetário Internacional.

Saad Quayyum é Economista no Departamento da África do Fundo Monetário Internacional. Trabalhou anteriormente no Departamento de Estratégia, Políticas e Avaliação e no Departamento do Oriente Médio e Ásia Central. Doutorou-se em Economia pela Universidade de Wisconsin-Madison e concluiu seu bacharelado na Dartmouth College. Trabalhou também no Departamento de Estudos do Federal Reserve Bank de Chicago. Seus estudos abrangem temas como finanças internacionais, remessas, ajuda externa, comércio, crescimento, diversificação e desastres naturais. Além disso, tem considerável experiência trabalhando com várias economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, e no enfrentamento de desafios em matéria de políticas para os setores fiscal, externo, monetário e financeiro.

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